Imprensa

22/10/2019

Centro Infantil Boldrini alerta sobre cuidados odontológicos e diminuição de complicações no tratamento do câncer

Diz o dito popular que a saúde começa pela boca e há quem questione essa afirmação. Mas o que não se pode mais questionar é a importância dos cuidados e da higiene bucal para o resto da saúde. E nesta semana em que se comemora o Dia do Dentista, em 25 de outubro, o Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento de câncer infantil e doenças hematológicas, faz um alerta: é possível prevenir complicações durante o tratamento do câncer com o devido e eficaz acompanhamento odontológico.

A princípio, parece que os cuidados odontológicos nada têm a ver com o tratamento do câncer, mas em uma dissertação de mestrado da estudante Rafaela Almendra Mattos, supervisionada pela dentista do Boldrini, Dra. Regina Maria Holanda de Mendonça, comprova o contrário. “O estudo mostrou que crianças que não realizaram o tratamento odontológico proposto, seguindo as orientações recebidas, tiveram mais complicações orais. Quando a criança está em tratamento, sua imunidade fica mais baixa e a chance de surgirem complicações aumenta. É preciso minimizar os riscos de infecções, pois elas podem interromper o tratamento. A boca é uma potencial fonte de infecções e a manutenção do cuidado odontológico colabora para prevenir essas infecções e suas implicações no restante do processo”, avalia a dentista.

Para o estudo, foram avaliados os prontuários de 147 crianças e adolescentes com tumores sólidos e linfomas, tratadas no Centro Infantil Boldrini, de zero a 20 anos. Delas, 43 não aderiram ao tratamento odontológico proposto, 49 aderiram parcialmente e 55, integralmente. 

Dentre os 147 prontuários analisados, 62,8% dos pacientes que não aderiram ao tratamento odontológico tiveram algum tipo de complicação oral, mais do que o dobro do que aqueles que fizeram efetivamente o acompanhamento odontológico (30,9%). Isso significa que 69,1% dos que aderiram totalmente ao tratamento odontológico não apresentaram qualquer tipo de complicação oral. Esse número cai para 51% quando se fala em adesão parcial ao tratamento odontológico e chega a apenas 37,2% dentre os que não fizeram este tratamento. 

O Boldrini conta com três dentistas e dois consultórios, e que só em 2018 realizaram mais de 5.100 atendimentos preventivos, como limpeza, aplicações de flúor e selante, além de restaurações, tratamento de canal, extração, aplicação de laser para prevenção e tratamento da mucosite oral, orientações de higiene oral e os cuidados para prevenir as complicações orais.

Dra. Regina explica que ter o consultório e o tratamento disponível no ambiente hospitalar é essencial. “Nós agendamos as consultas e procedimentos no mesmo dia em que o paciente já tem que vir ao hospital; tratamos dele de maneira integrada, em conjunto com os médicos e outros profissionais da equipe multiprofissional, considerando todo o quadro do paciente; se a criança tem medo do dentista, por exemplo, podemos trabalhar em uma abordagem junto com a psicologia, dependendo das razões deste medo. O ambiente hospitalar também facilita a não desistência do tratamento, pois tudo fica em um mesmo local, facilitando para pais e pacientes”, explica Dra. Regina.

A dentista explica ainda que uma infecção na boca pode ‘migrar’ para a corrente sanguínea e trazer outras complicações para os pequenos pacientes que normalmente estão com o organismo debilitado. “Muitas vezes os pais não entendem a importância de dar sequência no tratamento odontológico. Alguns acham que por se tratar de dentição de leite, o problema não é tão grave, ou até mesmo esquecem das consultas. Mostramos a família a importância de não se abandonar os procedimentos e o quanto isso pode refletir no tratamento do câncer ou da doença hematológica”, ressalta. 

O atendimento odontológico existe no Boldrini, de forma estruturada, desde 1993 e a Dra Regina está no Boldrini há 18 dos 27 anos de profissão. Chegou à odontologia do hospital no segundo ano do mestrado em oncologia, como estagiária e depois de três meses, abandonava de vez a cidade Natal, Uberlândia, em Minas Gerais, para ficar em Campinas. Após a conclusão do mestrado, fez o doutorado já fazendo parte da equipe de odontologia do Boldrini.  

“Meu pai era dentista e trabalhou até seus 80 anos. Hoje, ele tem 90 anos e sempre foi um incentivador da minha escolha. Estou longe da minha família, mas sei que estou fazendo a coisa certa. Estudei na Federal de Uberlândia, passei em concurso público na minha cidade e ainda atendia em consultório. Mas sentia que algo me faltava e descobri esse algo na odontologia hospitalar, em especial no cuidado aos pacientes com doenças oncológicas e hematológicas, nas pesquisas que ajudo a desenvolver, no atendimento no hospital. Tento compartilhar experiências, buscar o conhecimento e, de alguma forma, passar adiante o que aprendi aqui ao longo desses anos. Tive pessoas que me ensinaram e ajudaram na minha formação profissional e para mim, mais que uma obrigação, é um prazer tentar fazer o mesmo ”, afirma.

Segundo Dra. Regina, é possível que famílias de pacientes que já possuíam hábitos inadequados de cuidados orais tendam a apresentar maior dificuldade em considerar o tratamento odontológico como algo importante e em modificar hábitos. “Agora com os dados em mãos, que comprovam cientificamente a associação da falta do tratamento odontológico com complicações orais do câncer, temos que entender os reais motivos dessas desistências ou não tratamento e combatê-las”, afirma a dentista já desenhando em sua cabeça os próximos passos.  




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