Equipe médica do Boldrini recebe o professor Marcos Nogueira Eberlin (ao lado esquerdo da foto, de camisa preta )
e a pesquisadora Livia Eberlin (de cinza),
idealizadores do espectrômetro de massa inaugurado no hospital.
O Centro
Infantil Boldrini, hospital filantrópico que é referência na América Latina no
tratamento de crianças e adolescentes com doenças onco-hematológicas, acaba de
adquirir aparelho de espectrometria de massa capaz de delimitar o diagnóstico
de tumores cerebrais malignos a nível molecular durante a realização de
cirurgias. Os estudos em pacientes da tecnologia são inéditos nos hospitais
pediátricos de todo o mundo e devem começar ainda no mês de junho. Estudos
estrangeiros em adultos demonstram que a tecnologia representa um grande avanço
para o sucesso dos tratamentos, pois, na prática, tem como principal objetivo
certificar, durante uma cirurgia oncológica, que todo o tecido tumoral foi
removido do corpo do paciente.
“A precisão
da retirada do tumor é um dos fatores mais importantes quando falamos em
cirurgias no cérebro. As taxas de cura e sequelas estão relacionadas a isso,
pois o objetivo é garantir que toda a circunferência do tecido tumoral seja
retirada, sob os mínimos riscos possíveis aos pacientes. Desta forma, essa tecnologia agrega e
revoluciona essa prática. Com o uso do equipamento, o Boldrini terá,
dentro de 2 a 3 anos, seus próprios estudos de casos demonstrando a eficácia do
método. Até agora esse é o primeiro estudo no mundo em crianças e estamos muito
positivos ”, avalia a Dra.
Izilda Cardinalli, patologista do Centro Infantil Boldrini.
Com o aparelho, é possível identificar, classificar e mapear
tumores cerebrais em crianças e adolescentes por meio de técnicas de
Espectrometria de Massas via Desorção/Ionização em Condições Ambientais (DESI e
EASI), a partir da própria lâmina com o tecido.
“Com um
pequeno fragmento do tecido sobre uma lâmina, é feito um mapeamento químico,
sem nenhum preparo na amostra. Este escaneamento detecta os componentes
químicos que estão presentes ali: lipídios, proteínas e peptídeos.Esse perfil
muda drasticamente no caso de tecido sadio ou tumor”, explica a Dra. Izilda Cardinalli,
patologista do Centro Infantil Boldrini. “Esta diferença entre tumores e
células sadias ou tumores malignos e benignos nem sempre é perceptível pelas
análises morfológicas uma vez que muitas neoplasias têm a morfologia muito
similar”, completa.
A médica
patologista do Boldrini cita referências de 2007 da Organização Mundial de
Saúde (OMS), apontando que os tumores primários de Sistema Nervoso Central
(SNC) exibem um amplo espectro de subtipos histológicos. De acordo com as
informações da OMS estes tipos de tumores representam um verdadeiro desafio na
reprodutibilidade do diagnóstico, sendo capazes de gerar discordâncias em até
30% dos casos, mesmo entre os mais experientes neuropatologistas.
“Somente
com a microscopia óptica é muito difícil fazer o diagnóstico dos tumores. Mesmo
para os patologistas mais experientes é um desafio. Agora, com esta técnica,
será possível fazer um diagnóstico diferencial, mais exato e completo, no nível
molecular, somando ao diagnóstico convencional já existente”, reconhece Izilda,
que possui doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Ela
exemplifica, citando a dificuldade do diagnóstico convencional especificamente
em gliomas, tumores comuns em crianças e adolescentes. “É difícil até saber o
que é tumor e separá-lo do tecido normal. Portanto, um desafio é o cirurgião
saber até onde ele pode retirar o tumor. E você imagina o risco disso no
cérebro humano.”
A técnica inédita utilizada no espectrômetro de massa adquirido pelo Boldrini, Espectrometria de Massas via Desorção/Ionização em Condições Ambientais (do inglês, Easy Ambient Sonics prayIonization), foi desenvolvida pelo professor do Instituto de Química da Unicamp, Marcos Nogueira Eberlin, a partir de parceria entre a Universidade e o Laboratório ThoMson, fundado e comandado por ele. “Esta técnica é hoje, talvez, a mais eficiente e utilizada na área. Mas, nunca ninguém tinha empregado estas técnicas para o diagnóstico de neoplasias. Foi Lívia Eberlin, minha filha graduada pela Unicamp, a primeira pesquisadora no mundo a colocar um espectrômetro de massas numa sala cirúrgica e usar estas técnicas para o diagnóstico de tumores. Ela fez isso no hospital da escola de medicina de Harvard e Stanford, recebendo diversos prêmios. Agora, além dessas universidades americanas, o Boldrini vai contar com um espectrômetro de massas na sua sala cirúrgica. O primeiro a ser dedicado aos tumores infantis. Isso será certamente pioneiro e um grande feito para o Brasil”, afirma Ebelin, ressaltando que “o Centro Boldrini tem duas peculiaridades que estimularam ainda mais a parceria para a pesquisa: a assistência às crianças e adolescentes e o atendimento majoritário a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)”.