Imprensa

11/02/2019

Encerramento do PEOp reforça a oportunidade de jovens pesquisadores realizarem seus estudos no Centro de Pesquisa Boldrini

 


 

Na última sexta-feira, 8 de fevereiro, catorze estudantes das áreas de Medicina, Biomedicina e Odontologia, participantes do PEOp (Programa de Educação em Oncohematologia Pediátrica para Graduação na Área da Saúde), receberam os certificados de conclusão do estágio que tem como objetivo primário encorajar os estudantes a perseguirem uma carreira de pesquisa em oncohematologia pediátrica, com base em laboratório ou cientista clínico.


Com a presença da Dra. Silvia Brandalise, presidente do Centro Infantil Boldrini e pesquisadores do Boldrini, os estudantes puderam apresentar um pouco do que aprenderam durante as 210 horas de estágio com treinamento em laboratórios de Hematologia, Biologia Molecular, Genética, Imunoengenharia, Serviço de Imagem, Epidemiologia, Saúde Mental e Odontologia.


Ao término do estágio, cada estudante apresenta um projeto que poderá ser realizado dentro do Centro de Pesquisa Boldrini, que hoje é o maior centro de pesquisa em oncologia pediátrica da América Latina, e apoiado pelos professores de seus respectivos cursos.


O estudante Bruno Gomes cursa medicina na Unicamp e acompanhou as atividades dentro do laboratório de Medicina Molecular e pretende desenvolver sua pesquisa sobre “Desenvolvimento de Anticorpos Monoclonais”. “No estágio eu pude experimentar intensamente diversas atividades que não teria na graduação. Eu gosto muito da área de biologia e pesquisa e tenho interesse em seguir carreira na pesquisa sem precisar sair do Brasil”, explica.


Já as estudantes de odontologia Larissa Agatti e Beatriz Martins querem dar continuidade ao projeto cujo tema é “A atuação do cirurgião dentista dentro de um hospital onco-pediátrico”.  Segundo Larissa, o dentista dentro do hospital está se firmando agora. “O PEOp é um diferencial pela vivência que nos é concedida. Participamos desde o agendamento até o tratamento do paciente”, conta. A Dra. Regina Mendonça, supervisora da área de Odontologia do PEOp reforça a importância do estágio. “Este ano, recebi duas alunas de universidades diferentes permitindo uma troca de saberes, inclusive entre elas, que puderam ainda ter a possibilidade de conhecer a nossa atuação que é fora do padrão de odontologia”, reforça Regina.


Além desses, outros projetos já estão tomando forma por meio dos alunos desta edição: “As Intervenções Psicossociais com adolescentes em processo de quimioterapia”, “A instabilidade genômica no osteosarcoma”, “A citogenética nas leucemias infantis”, “Epidemiologia das infecções no paciente oncológico pediátrico”, “A elaboração de banco de dados de sobrevida para pacientes do Boldrini” e “Os princípios de imunoengenharia no tratamento de neoplasias”.


Este modelo pioneiro no Brasil está em sua sexta edição, é conveniado com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e se inspira no Programa de Oncologia Pediátrica para Estudantes da graduação das áreas da saúde (POE), ministrado pelo Hospital St. Jude (Memphis, Tennesse), maior hospital terciário especializado em hematologia e oncologia pediátrica dos Estados Unidos (www.stjude.org.poe).  Até o momento, 47 alunos participaram do Programa, sendo alguns deles premiados nacional e internacionalmente por seus estudos.

 

Centro de Pesquisa

Hoje, a maior parte das pesquisas tem focado no câncer do adulto, o que consequentemente leva ao atraso na aplicação de novos conhecimentos e terapias alvo na oncologia pediátrica – daí a importância de um centro voltado para a área. “Nosso objetivo é mudar esse cenário, traduzindo esforços em benefícios para os pacientes pediátricos, bem como o fomento para iniciativas nacionais de produção de novos medicamentos contra o câncer da criança. O Centro de Pesquisa Boldrini está apto a ser protagonista nas diferentes etapas necessárias ao processo de inovação e desenvolvimento de produtos. Além disso, a proximidade dos laboratórios de pesquisa com o local onde se desenvolvem as atividades clínicas (Centro Infantil Boldrini), coloca a estrutura em situação privilegiada para a realização de estudos clínicos”, complementa Dra. Silvia Brandalise.


O Centro de Pesquisa Boldrini conta com cerca de 5 mil metros quadrados de área construída, que abrigarão laboratórios com tecnologia de ponta, para aumentar a produção e disseminação de conhecimentos nas áreas de epidemiologia e da biologia molecular e celular do câncer pediátrico.  “A ideia é criar um ambiente de trabalho capaz de absorver os conhecimentos científicos, em continuo diálogo com a equipe médica, de modo a estimular ambos os lados a perceberem e criarem novas abordagens diagnósticas e de tratamento dos pacientes” diz o Dr. José Andrés Yunes.


Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o incentivo à pesquisa é sobretudo focado no doutorado. Posteriormente, os pós-graduandos de maior excelência procuram inserção nos grandes laboratórios e universidades internacionais e frequentemente os perdemos, porque não oferecemos fácil assimilação, seja no ambiente acadêmico, seja na indústria. O Centro de Pesquisa Boldrini terá como uma de suas metas primordiais contribuir para a atração e retenção de talentos interessados na investigação do câncer da criança, revertendo uma tendência já estabelecida de perda de pesquisadores promissores, a qual é altamente corrosiva para a consolidação da ciência e tecnologia nacionais. O Centro de Pesquisa criará seu próprio programa de suporte ao pós-doutorado e Jovens Pesquisadores, em colaboração com Agências Nacionais e Internacionais de fomento. Estima-se que o Centro acolha em seu pleno funcionamento cerca de 200 profissionais, dentre eles pesquisadores principais, jovens pesquisadores, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e técnicos de nível superior.  


“As instalações físicas para o trabalho em sistema GMP (Good Manufacturing Practices) serão um aspecto importante do Centro de Pesquisa Boldrini, com a perspectiva de implementação futura de ensaios clínicos de fase I/II de terapias gênicas e celulares de última geração. É possível, por exemplo, modificar geneticamente o sistema imune dos pacientes, de forma a torná-lo capaz de eliminar as células tumorais. Usando esta abordagem em alguns centros americanos e europeus, tem sido alcançada a cura de crianças com leucemia resistente ao tratamento quimioterápico, através da terapia com linfócitos modificados do próprio paciente, via inserção de genes que produzem receptores ‘antileucemia’. Todavia, o número de pacientes tratados em todo o mundo não passa de algumas centenas, porque este tipo de intervenção é ainda muito caro e complexo. Ademais, há pouquíssimas instituições que possuem instalações adequadas para esta modalidade de imunoterapia e é muito difícil montar as equipes com a expertise multidisciplinar altamente especializada necessária à sua implementação. O Centro de Pesquisa Boldrini terá tanto as instalações, quanto a capacidade de formar uma equipe com expertise de ponta, que nos permitam mover gradualmente na direção deste novo tipo de medicina molecular” diz o Dr. Pedro O. de Campos Lima.

 

Embasamento para a criação do Centro de Pesquisa Boldrini

O Centro Infantil Boldrini possui um histórico de seriedade e respeito da comunidade médica e científica nacional e internacional. Os números e conquistas impressionam. Ao longo de sua história, o Boldrini já atendeu cerca de 10 mil pacientes encaminhados com a suspeita ou o diagnóstico de câncer. Destes, cerca de 6 mil são sobreviventes e continuam em acompanhamento.


Considerando os tratamentos de tumores malignos, foram 8 mil casos, dos quais 6 mil alcançaram a cura, gerando um índice de cerca de 68% de sobrevivência a longo prazo. Vale destacar que, ao longo das quatro décadas de atuação, houve significativa redução das taxas de mortalidade, colocando os resultados alcançados no Boldrini muito próximos ao conquistados nos maiores centros internacionais. 


Entre os destaques da atuação do hospital, está sua liderança no GBTLI (Grupo Brasileiro de Tratamento de Leucemia Linfoide Aguda da Criança). O Boldrini fundou o Grupo em 1979 e, desde então, coordenou seus estudos clínicos prospectivos em leucemia (LLA-80, LLA-82, LLA-85, LLA-93, LLA-99 e LLA-2009), desenvolvidos em diversas instituições do país.


Para se ter uma ideia, antes de 1978, as chances de cura da LLA estavam em torno de 5%. Com o estudo clínica LLA-80, as taxas de sobrevida em 5 anos resultaram em 30%, acrescendo progressivamente, nos estudos subsequentes, para 70-80%. É notável que a atuação e liderança do Boldrini estimulou e propiciou, em nível nacional, a capacitação e treinamento de profissionais de diferentes estados, nas novas tecnologias de diagnóstico e tratamento da leucemia da criança.


Atualmente, o Boldrini é o único representante do Brasil em Estudo Epidemiológico sobre o Meio Ambiente e o Câncer da Criança, a convite do ICCCC (International Chilhood Cancer Cohort Consortium)/WHO, para, ao lado de vários outros países, buscar fatores relacionados ao desenvolvimento do câncer na criança.


Para alcançar esse patamar, trabalham nas instalações do Centro Infantil Boldrini (que tem 130 mil metros quadrados de área), 75 médicos, 684 profissionais multidisciplinares e cerca de 500 voluntários.


A complexa estrutura do Centro Infantil Boldrini destaca-se não só pela alta tecnologia doslaboratórios de hematologia, genética e biologia molecular, dos serviços de imagem, de radioterapia, quimioterapia, e reabilitação, mas pela atenção e cuidado com que foi construída, sempre pensando no bem-estar dos pacientes. Os 77 leitos da internação constituem modelo arquitetônico modulado e funcional, que privilegia o conforto dos pacientes e acompanhantes. Cada unidade da internação possui nove quartos com banheiro privativo tanto para paciente quanto para o acompanhante, dispostos de forma circular, ao redor da enfermaria, para acompanhamento em tempo integral. Oito deles são de terapia intensiva.


Capacitação profissional - Nos últimos dez anos, o Boldrini contribuiu com a capacitação de 332 profissionais, em atividades de estágio, residência médica, mestrado, doutorado, pós-doutorado e aprimoramento profissional, nas áreas de hematologia e oncologia pediátrica; clínica científica, radiologia, radioterapia, reabilitação, anatomia e patologia.

O hospital recebe, adicionalmente, pós-graduandos das áreas de enfermagem, psicologia, serviço social, nutrição, biologia, biomedicina e física, para aprimoramento nas áreas de atuação do Boldrini.



Recursos Financeiros – O Boldrini atende 80% dos pacientes via SUS e 20% por meio de convênios privados. Os atendimentos do SUS geram 20% da receita; os convênios, 30%; os 50% restantes são oriundos de doações de pessoas físicas ou jurídicas.


O crescimento do Boldrini aconteceu de maneira natural e é assim que vemos o futuro da instituição. Um desenvolvimento firmado com a simbiose entre técnica e paixão. “Apesar da escassez de recursos para pesquisa no Brasil, consonante com as dificuldades econômicas, sociais e políticas do momento pelo qual passa o país, conseguimos avançar. Desejamos que o Boldrini continue sendo a instituição que privilegia a criança e o adolescente, proporcionando-lhes acolhimento humanizado, integral, capaz de proporcionar desenvolvimento físico, mental e social, com qualidade de vida. Nossos pequenos doentes merecem atenção e carinho”, finaliza Dra. Silvia.