Pesquisadores do Brasil, Austrália e Dinamarca se reuniram no
Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança, no Centro Infantil Boldrini, em
Campinas (SP), nesta segunda-feira, dia 16, para falar sobre os impactos das exposições
ambientais associadas ao câncer pediátrico. Os profissionais falaram para uma
plateia lotada de profissionais da saúde, integrantes do Ministério Público e
sociedade em geral sobre os resultados das pesquisas mais recentes no Brasil e
no mundo. Os temas abordados foram a influência de fatores externos ainda durante
a vida intrauterina; relação entre o alto peso ao nascer e neoplasias infantis;
impacto da exposição pré-natal ou após o nascimento, aos pesticidas e agrotóxicos
para a saúde das crianças e adolescentes; exposição a produtos químicos no trabalho
dos pais, associados ao câncer da criança.
“Talvez a mensagem
mais importante deste Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança, tenha sido
mostrar que os cientistas internacionais e nacionais estão preocupados com o
aumento mundial da incidência do câncer pediátrico, tentando construir a história epidemiológica
dos tumores pediátricos, por meio de investigações prospectivas e sistematizadas, realizadas em centros de
referência mundial no tratamento de tumores pediátricos, buscando entender quais
são os fatores de risco associados a tais cânceres”, comentou a organizadora do
evento, Dra. Silvia Brandalise, que integra o Consórcio Internacional do Câncer
da Criança, vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao IARC (Agência
Internacional de Pesquisa do Câncer).
Referência
internacional no assunto, o médico e pesquisador australiano Terence Dwyer –
Coordenador do Consórcio do Coorte Internacional do Câncer da Criança (ICCCC ou
I4C) - esteve no evento para mostrar os resultados obtidos pelas pesquisas
deste Consórcio, que se traduz como um esforço global para compreender os
fatores de risco associados ao câncer da Criança. “Apesar da incidência global de
câncer em crianças e adolescentes ter aumentado de forma constante no mundo, os
avanços sobre a compreensão das causas envolvidas ainda são limitados, daí a
necessidade de estudarmos os mecanismos moleculares que levam a essas
neoplasias malignas”, explica Dwyer.
Em sua apresentação no fórum, o pesquisador abordou as
descobertas recentes que evidenciam como as exposições ambientais ainda no
útero podem influenciar no surgimento e desenvolvimento de doenças na infância.
Dados consistentes, obtidos via pesquisa prospectiva, sugerem a relação entre
exposição dos pais a agentes infecciosos, químicos e pesticidas ao surgimento
de diferentes tipos de câncer, principalmente leucemia e tumores cerebrais.
Da Dinamarca, o médico
e pesquisador Kjeld Schmiegelow comentou os resultados de duas pesquisas: a
primeira, sobre a relação entre o trabalho dos pais em indústrias químicas e o
câncer dos filhos; a segunda, sobre e a relação entre alto peso ao nascer e
câncer infantil.
Esteve em pauta também
ao longo do evento a influência de poluentes ambientais e sua relação
com o surgimento de malformações e neoplasias, como o câncer da criança. Pesquisadores
brasileiros da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), USP (Universidade
de São Paulo), UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina), ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva),
FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz), INCA (Instituto Nacional do Câncer/MS) e
Ministério Público Federal e Ministério da Ciência e Tecnologia fizeram
apresentações ao longo de todo o dia.
“Por uma questão cada vez mais atrelada a nossa própria
sobrevivência, a vida no século XXI nos impõe um conhecimento e um pensamento
crítico que vão muito além daqueles clássicos (mas necessários) sobre aspectos
gerais da poluição do ar, do solo e das águas. Nesse sentido, torna-se cada vez
mais relevante o acesso a informações sobre formulações químicas nocivas à
saúde humana relacionadas a produtos, materiais e bens de uso comum, presentes
em nosso dia a dia como inseticidas, repelentes, cosméticos, tecidos
sintéticos, tubos PVC, dentre muitos outros que, por absoluto desconhecimento,
tem seus riscos totalmente ignorados por nós”, comentou a pesquisadora Sonia
Hess, da UFSC, uma das palestrantes.
“Muito mais do que cumprir o propósito de informar, as
pesquisas mais recentes e a disseminação desse tema cumprem também o papel de
despertar em cada um de nós o desejo de rever velhos hábitos de consumo,
inclusive no plano alimentar”, complementou a pesquisadora.
Nesse sentido, as
discussões do Fórum Meio Ambiente e Câncer da Criança destacaram as descobertas da ciência sobre como
os fatores de risco, associados ao modo de vida e ao ambiente, podem estar
associados com o potencial de adoecimento dos indivíduos, e mais
especificamente com o grupo mais vulnerável, as crianças. Entre eles: poluição
hídrica, exposição a produtos químicos no trabalho, uso indiscriminado de
agrotóxicos, pesticidas domésticos e consumo de aditivos alimentares, entre
outros.
Crescimento econômico e saúde pública
também tiveram espaço nas apresentações. “Para entender um pouco esse assunto
como um todo, é preciso ainda pensarmos nos problemas ambientais e de suas
repercussões sobre a saúde humana e os ecossistemas, contemplando também
críticas ao modelo de desenvolvimento vigente, à legislação e à sua aplicação
no país”, avaliou o professor Luiz C. M. Filho, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da UNICAMP, também participante do encontro.
A jornalista Cristina Serra, reconhecida nacionalmente por seu envolvimento com as causas ambientais, foi moderadora da mesa redonda do Fórum e destacou a importância do evento. “O Centro Infantil Boldrini, com este Fórum, está mantendo sua tradição de vanguarda na defesa da saúde da criança e do adolescente. O meio ambiente causa sim impactos na saúde e as pesquisas de alto nível que vimos aqui demostram esses impactos, por exemplo, dos agrotóxicos e dos pesticidas, que estão associados a doenças. A partir dessas informações, que são estarrecedoras, é preciso darmos um passo adiante, articular sociedade e política pública e partir para a ação. Hoje vencemos a barreira da desinformação”, disse.