Uma jornada repleta de esperança, medo, alegria, choro, pânico,
conquistas e fé. Assim é a vida das mães de crianças e adolescentes em
tratamento contra o câncer. Em comum, elas têm mais do que a busca pela cura.
Juntas, batalham para tornar esse caminho mais leve para os filhos. E aprendem
muito com isso – a rotina rígida e restrita que vivemos hoje, cercados de
cuidados em função do covid19, por exemplo, já é uma realidade para elas há
tempos.
Neste Dia das Mães, três mães com filhos em tratamento no Centro
Infantil Boldrini, em Campinas, SP, compartilham suas experiências e contam o
que aprenderam com os filhos com câncer.
No próximo domingo, 10 de maio, quando é celebrado o Dia das
Mães, o Boldrini lançará em suas redes sociais Instagram
(@centro_infantil_boldrini) e Facebook (Centro Infantil Boldrini) a campanha “O
que aprendi com meu filho com câncer”, com os vídeos dos depoimentos.
Priscila Pires Antoniassi, mãe do Arthur, de 8 anos
“Há três anos, ao receber o diagnóstico de
que meu filho Arthur, então com 5 anos, tinha um osteossarcoma na perna, tinha
alguma ideia de que estava prestes a viver momentos de incerteza. Mas saber que
existem diversos cenários nos esperando não significa que estejamos preparados
para todos eles. Para chegar a esse estágio, é preciso muito aprendizado.
Após passar pelo tratamento inicial, Arthur
precisou amputar a perninha esquerda e retirar dois terços do pulmão direito.
Que mãe, ao conceber um filho, está preparada para isso? Acredito que nenhuma.
Tivemos muito medo e enfrentamos muita tristeza juntos.
Como mãe, nunca imaginei que teria que passar
anos entre idas e vindas ao Boldrini. Por muitas vezes, como hoje mesmo,
aguardando ansiosa resultados de exames, com o coração na mão.
Mas, passado o susto inicial, começa para
nós, mães, um período de muito aprendizado. Apesar da situação extremamente
difícil, com a agonia com o tratamento longo, do medo constante a qualquer
indício de febre e dos constantes efeitos colaterais da quimioterapia, pude
experimentar, a partir dali, cada vez mais a presença de Deus nas nossas vidas,
dar mais valor à vida e me conectar ainda mais com minha família – eu e meu
marido temos também um filho mais novo que o Arthur – e, o que nos surpreendeu
muito, encontrar uma nova família fora de casa, formada tanto pelos
colaboradores do hospital quanto pelas demais famílias que enfrentam a mesma
situação que nós. A força de uma ajuda a outra, e assim seguimos.
Além disso, meu filho transborda felicidade e
vejo que nada o impede de ser uma criança como as outras. Poder estar com ele
nesses momentos, é um grande presente. Com isso, acredito que acabamos tendo
mais momentos felizes, por encontrar a alegria em gestos corriqueiros.
Agradeço a Deus todos os dias pela minha família e peço pela saúde de todos os
nossos pequenos carequinhas”.
Caroline Prado Ruggiero,
mãe do Bruno, de 3 anos
“Até o dia e que recebemos o diagnóstico de que o Bruno tinha leucemia, imagine só, o desafio mais assustador que tínhamos enfrentado junto era sair para tomar uma vacina! Aquela picadinha rápida e as lágrimas que se seguiam faziam meu coração de mãe ficar bem pequeno.
Hoje, dezenas de quimios e “furadinhas”
depois, posso dizer que, para minha surpresa, minha força triplicou. Era
preciso estar ao lado dele para cada acesso, cada quimio. Não deixei de acompanhá-lo
sequer um dia, mesmo nos agendamentos mais “leves”. Minha perspectiva, como
mãe, havia mudado. Ao invés do coração apertado, queria mostrar para ele que,
apesar de difícil, aquele momento era passageiro. Por meio do amor, me empenhei
em transformar nossa jornada em algo menos traumático possível.
Conheci então uma força que não sabia que
tinha. Foi quando aprendi a viver o hoje, a apreciar o agora. Para mim,
felicidade é acordar e ver que meu filho despertou sem febre. Uau, é um forte
indício de que o dia será realmente bom! Se ele está comendo, é sinal de que
tivemos mais um grande momento. Viva!
Aprendi que o cotidiano é valioso. E quanta
alegria eu perderia se não tivesse aprendido a enxergar a vida dessa maneira? O
Bruno ainda está em tratamento, mas hoje, certamente, sou mais feliz.
Maristela Lago, mãe da
Maria Eduarda, de 17 anos
“Após passarmos por nada mais nada menos do
que 22 médicos à procura de um diagnóstico, eu e minha filha, Maria Eduarda,
então com 15 anos, chegamos ao Boldrini. Foi quando conseguimos descobrir que
ela tinha um linfoma Hodgkin e precisava de tratamento imediatamente.
De repente, as notícias, que eu acompanhava
diariamente, transformaram-se no acompanhamento dos boletins médicos. Conversas
de Facebook, grupos de Whatsapp, perdem a relevância diante de algo tão
chocante. Aprendemos a ressignificar e a priorizar. Começa como uma
necessidade, aos poucos, transforma-se em aprendizado.
No tratamento contra o câncer, não existe
cartilha. É preciso tatear caso a caso, e é difícil lidar com tamanha
insegurança. Por isso, um dos maiores ganhos nessa travessia são as amizades e
laços que criamos com aqueles que estão passando pelo mesmo desafio que nós. Juntos,
vivenciamos dias de oração, recebemos muito amor e, principalmente,
compreensão.
Temos dias tensos, temos dias de muita
alegria. Dia de alegria com nosso filho e preocupação com o da colega ao lado.
Celebramos conquistas. Conhecemos pessoas incríveis. Dividimos nossas mais
profundas angústias e descobertas com desconhecidos que, de repente, se tornam
as pessoas com quem mais convivemos por meses.
A vida das mães de pacientes oncológicos
ganha um novo significado. Eu, por exemplo, passei mais de um mês com a Duda em
um quarto de hospital, após a realização de um transplante, sem sair de lá.
Nesse momento, você faz amigos que lembrará para a vida inteira.
É uma experiência que muda nosso jeito de ver
o mundo, de tratar as pessoas e de processar tanta informação diariamente.
Nunca imaginei temer tanto pela vida da minha filha. Mas aos poucos aprendi o
significado único de passar por isso, para meu amadurecimento como mãe, mulher
e ser humano.
A saúde é o mais importante. Poder dar colo é
inestimável. O restante é pura simplicidade.